sábado, 16 de maio de 2015

Investimento em Educação: As lições da Finlândia para o Brasil

Respeitadas e compreendidas todas as diferenças entre os dois países, o Brasil pode tomar a Finlândia como um bom exemplo de sistema educacional.
São Paulo, 24 de maio de 2013. Blog Daniel Cara

Enquanto a Campanha Nacional pelo Direito à Educação realiza, em parceria com a Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) o importante seminário "Nem herói, nem culpado. Professor tem que ser valorizado", a diretora do Ministério da Educação da Finlândia, Jaana Palojärvi, visita o Brasil. Como não poderia ser diferente, a presença da gestora finlandesa por aqui tem causado certo frisson. Seu país, no curso dos últimos anos, tem sido a principal referência no PISA (Programme for International Student Assessment ou Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). E, diante disso, ninguém resiste à pergunta: qual é o segredo da Finlândia?

Segundo Jaana Palojärvi, o sucesso finlandês no PISA não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos como Prova Brasil, Enem ou Enade. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e aposta na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar.

Adicionalmente, segundo matéria do portal G1, na Finlândia a educação é gratuita, inclusive no ensino superior. A jornada, de 4 a 7 horas, é relativamente curta para os padrões europeus. E os alunos não têm muita lição de casa. "Também temos menos dias letivos que os demais países, acreditamos que quantidade não é qualidade", diz Jaana.

A gestora educacional considera que duas reformas foram responsáveis pela melhoria da educação finlandesa: uma na década de 1970 e outra nos anos 1990. Na década de 70 a educação ganhou centralidade na agenda pública nacional. Já a partir do início da década de 90, o sistema educacional foi descentralizado. Os municípios, escolas e, principalmente, os professores passaram a ter mais autonomia, recebendo condições adequadas de trabalho.

"Fé e confiança têm papel fundamental no sistema finlandês. Descentralizamos, confiamos e damos apoio, assim que o sistema funciona. O controle não motiva o professor a dar o melhor de si. É simples, somos pragmáticos, gostamos de coisas simples."

Em outras palavras, sistemas apostilados, que mediocrizam o trabalho do professor, não cabem na Finlândia. Bem como programas de remuneração por mérito, tão defendidos pelo Brasil afora. Atenção economistas de plantão: Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) na porta da escola na Finlândia? Jamais!

Obviamente, é impossível implantar o modelo finlandês por aqui. Brasil e Finlândia são países completamente diferentes. Mas, sem dúvida, a ex-colônia russa pode servir como exemplo em termos de trabalho pedagógico. E em remuneração dos professores.

Ao ler as matérias publicadas na imprensa nacional sobre a visita de Jaana Palojärvi ao Brasil fui surpreendido por uma curiosa notícia: para ela, o segredo do sucesso não está ligado ao financiamento da educação.

A Finlândia investe um patamar próximo a 6% de seu PIB em educação pública. "O sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", afirma Jaana.

Mas quanto ganha o professor por lá? Em média, cerca de R$ 8 mil!

Seria justo, seria ótimo... Contudo, nem com um investimento público em educação pública equivalente a 10% de seu PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil conseguirá remunerar com R$ 8 mil reais, na média, seus profissionais do magistério. Na melhor das hipóteses, alcançado esse patamar, daqui a 10 anos, nosso país pode conquistar uma média de remuneração docente entre R$ 3 mil e R$ 4,5 mil reais. Ainda assim, para tanto, precisa ser aprovado e implementado, urgentemente, um novo e bom PNE (Plano Nacional de Educação).

Portanto, tal como propõe a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a melhor alternativa de ação é perseverarmos na luta por um "PNE pra Valer!". Se não podemos ser a Finlândia, que o Brasil dê um passo decisivo e decidido rumo à educação pública de qualidade.

Além do portal G1, este post utilizou informações publicadas pela Agência Senado e Agência Brasil.

(***)
Comentário de 25/5: Por algum motivo, não está funcionando o serviço de comentários do Blog.

Assim, via Facebook, alguns leitores me perguntam se o Brasil precisa investir o equivalente a 10% do PIB em educação pública, pois a Finlândia investe menos. Vamos lá...

Se quiser valorizar o professor, o Brasil precisa dobrar, em uma década, seu investimento em educação pública.
Em termos absolutos, a Finlândia é um país com um PIB menor do que o brasileiro, mas com muito menos habitantes e, obviamente, com ainda menos estudantes.
Com isso, mesmo investindo menos em educação em comparação ao seu PIB, investe muito mais em termos de custo-aluno/ano e em salário dos professores, como postei.
Segundo o último relatório "Education at a glance 2012" da OCDE, a Finlândia investe USD 5.553 dólares por aluno ao ano em educação pré-primária (educação infantil), USD 7.368 no ensino primário, USD 8.497 na educação secundária e USD 16.569 no ensino superior.
Já o Brasil, respectivamente, investe: USD 1.696, USD 2.405, USD 2.235 e USD 11.741. Ou seja, muito menos.
É por isso que por lá, com cerca de 6% do PIB investidos em educação, a Finlândia tem uma remuneração média do professorado próxima de R$ 8.000. E percebam: com 10% do PIB destinados à educação pública o Brasil alcançaria apenas metade desse valor.
Ou seja, hoje investimos o equivalente a 5,3% em educação pública e estamos com uma remuneração média do profissional do magistério que não chega a R$ 2 mil reais. Vocês acham que vale a pena investir um patamar de 10% do PIB e alcançar quase R$ 4,5 mil reais de remuneração média dos docentes da educação básica?
Ainda é pouco, mas é um salto necessário. Pergunto: vale a pena dá-lo? Essa é a pergunta central.
A Campanha Nacional pelo Direito à Educação acredita na valorização docente. E, por isso, trabalha por um "PNE pra Valer!", com uma meta de investimento público em educação pública equivalente a 10% do PIB, a ser alcançada em 10 anos.
Portanto, quando Jaana Palojärvi afirma que o "sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", ela está comparando a Finlândia com seus vizinhos, pois em termos práticos, seu país investe muito mais em suas crianças, adolescentes e jovens do que o Brasil. Essa realidade me incomoda. E a vocês?
Agora, espero que tenha ficado mais clara minha posição... Mandem mais comentários. E aqui eu mando um forte abraço!
Para acessar o relatório da OCDE, clique aqui: Education at a Glance 2012.

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26/5: Comentário da Profa. Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da UnB:

"Daniel Cara, nessa missão [de Jaana Palojärvi] ao Brasil, alguns professores também participaram e um dos locais de visita foi Brasília e a UnB. Em uma atividade que realizamos na Faculdade de Educação duas professoras, sendo uma diretora de escola, trouxeram informações importantes para entendermos esse processo.
A questão da formação: todos os professores das series iniciais têm mestrado, os da educação infantil têm graduação e já está em desenvolvimento uma política para que eles também façam mestrado.
A educação obrigatória começa aos sete anos de idade, mas 90% das crianças pequenas estão matriculadas na educação infantil.
Os alunos ao concluírem o ensino médio podem escolher se vão fazer curso superior acadêmico, Politécnico ou ambos.
Não existe escola particular, todas são publicas, da educação infantil à pós-graduação. Não há grandes disparidades de renda, ou seja, muito pobres e muito ricos."

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